A glândula tireóide pode funcionar demais

O bom funcionamento da glândula tireóide, que se localiza na face anterior do pescoço, produz em quantidade adequada dois hormônios conhecidos por suas siglas:-T4 (Tiroxina)-T3 (Tri-iodo-tironina)
A falta de função da glândula tireóide é denominada de HIPOtireoidismo (HIPO = de menos) e o excesso de função tireoidiana chama-se HIPERtireoidismo (HIPER = de mais).
A falta de função da glândula tireóide é muito mais comum podendo atingir até 10% da população feminina e 4% da masculina.
Já a tireóide super-funcionante é encontrada em cerca de 3% das mulheres e 1% dos homens.

O que ocorre quando a tireóide trabalha demais?

Os sintomas mais comuns são de hiperatividade.
A pessoa é muito nervosa, agitada, dorme mal, apresenta movimentos de mãos e dedos sem propósito, transpira muito e sente muito calor mesmo em ambientes com ar condicionado.
Outro sinal comum é o parceiro (marido ou esposa) queixar-se de que, à noite, a pessoa com excesso de tireóide "chuta" os cobertores e as cobertas, vítima de calor intenso. O excesso de tireóide também leva o paciente a comer muito (e sempre rapidamente). Apesar do excesso calórico, o paciente perde peso.
O hipertireóideo tem vários problemas intestinais, mas o mais comum é "ir ao banheiro" para evacuar três a quatro vezes ao dia. Quando pega uma xícara de café, um copo de água, uma folha de papel, nota-se o tremor de mãos, incontrolável.
O coração bate depressa demais (taquicardia), a pressão pode se elevar e, eventualmente, ocorre arritimia dos batimentos cardíacos.
Nos idosos estes sintomas são menos evidentes e o diagnóstico pode ser retardado por falta de dados clínicos.

Um equívoco do sistema imunológico

Em mais de 70% dos casos o sistema imunológico, que produz anticorpos contra os nossos inimigos biológicos (bactérias, fungos, vírus) comete um erro. Por influência de fatores genéticos, esse sistema passa a "atacar" a tireóide como se esta glândula fosse um "tecido", um "órgão" estranho (isto é, não pertencente ao seu próprio corpo).
Os anticorpos lançados contra a tireóide estimulam a glândula a ficar, permanentemente, em alta velocidade de produção de hormônios.
É a chamada moléstia de Graves-Basedow ou hipertireoidismo autoimune.
Em pacientes mais idosos, a tireóide dá início ao crescimento de um nódulo hiperfuncionante, o qual passa a produzir muito hormônio sem qualquer controle ou sistema de frenação. É o chamado nódulo autônomo.
Em pacientes que viveram anos de carência crônica de iodo (como já tivemos, no passado, no Brasil) existe o chamado Bócio multinodular – o aumento da tireóide com muitos nódulos. Esta massa maior de tecido pode produzir excessiva quantidade de hormônios da tireóide e surge o hipertireoidismo.

O tratamento do hipertireoidismo

Existem três modalidades de terapêutica.
Comprimidos que bloqueiam a síntese de hormônio, tomados uma ou mais vezes ao dia conduzem a tireóide à normalidade.
Mas devem ser tomados por período de 12 a 24 meses e a possibilidade de "cura" é de 50%. Pode-se administrar uma dose de iodo radioativo o qual, parcialmente destrói a tireóide e normaliza o quadro em pouco tempo.
Finalmente existe a opção de cirurgia quando o tamanho da tireóide atingir volume excessivo. Após a "cura" do hipertireoidismo cerca de 50-70% dos pacientes podem permanecer com falta de função da tireóide, isto é com hipotireoidismo.
O hipertireoidismo é doença muito séria, com possíveis condições cardíacas adversas e deve ser tratado precoce e continuamente pelo endocrinologista.
O acompanhamento tem de ser prolongado para detectar-se a possibilidade de o paciente vir a apresentar hipotireoidismo.


Fonte: VEJA ONLINE - set 2007

A vida sem tireóide

A glândula tireóide é muito importante para uma vida saudável. A importância dos hormônios produzidos por ela pode ser avaliada pelo fato de que esta pequena estrutura situada na região cervical anterior já começa a funcionar na 16ª semana de vida fetal.
Os hormônios produzidos pela glândula, conhecidos como tiroxina (T4) e tri-iodo-tironina (T3), são essenciais para que o feto tenha desenvolvimento adequado e, mais importante, que o sistema cerebral tenha desenvolvimento e maturação normais.
No recém-nascido e na criança os hormônios da tireóide também propiciam a maturação do Sistema Nervoso Central e contribuem para o crescimento somático. Se faltar hormônio da tireóide o crescimento será afetado (retardo de crescimento) e haverá sérias seqüelas neurológicas.
Na vida adulta a falta de tireóide tem conseqüências sérias.
Ganho de peso, inchaço, depressão, sensibilidade ao frio, metabolismo muito lento, elevação do colesterol e derivados, queda de cabelo e unhas fracas. Todo este quadro é denominado hipotireoidismo, corrigido pelo uso constante de L-Tiroxina. A glândula pode ser retirada por cirurgiaCerca de 30% da população adulta pode ter um nódulo ou cisto na tireóide.
Com o uso cada vez mais freqüente de ultra-sonografia da tireóide, o nódulo atualmente pode ser descoberto facilmente. Em geral, em média 85% dos nódulos são benignos, mas 15% podem ser malignos. Para saber mais a respeito do nódulo, os médicos solicitam uma punção aspirativa com retirada de células que são examinadas no microscópio.
Este exame pode indicar se o nódulo deve ser retirado por cirurgia. Comprovada a presença de câncer de tireóide, toda a glândula irá ser retirada e o paciente terá que tomar um comprimido de L-Tiroxina para não apresentar hipotireoidismo.
Em vários países, os paciente que tiveram esse problema se organizaram e formaram associações com a denominação "Viver sem tireóide", com o objetivo de divulgar informações, esclarecer dúvidas, ampliar o conhecimento sobre a tireóide e avaliar as conseqüências de ficar, para sempre, sem a glândula.

As conseqüências de viver sem tireóide

O ato cirúrgico pode levar à lesão de pequenas glândulas paratireóides (são quatro glândulas), que regulam o metabolismo do cálcio na circulação e nos ossos.
Em boa parte dos pacientes operados existe queda do cálcio no sangue com sintomas de formigamento, contração muscular e perda de cálcio nos ossos. Pode ocorrer também uma certa rouquidão por lesão dos nervos das cordas vocais.
A retirada total da tireóide leva à necessidade de repor, diariamente, o hormônio da tireóide para o paciente operado. A tireóide, porém, não produz somente T4 e T3, mas é fonte de outro hormônio chamado de Calcitonina.
Este hormônio é importante pois contribui para levar mais cálcio para os ossos, entre outras funções. Com a retirada total da tireóide, o paciente fica sem a Calcitonina, com risco de ter menos cálcio no osso (osteopenia, osteoporose). Portanto, é útil acrescentar suplementação de cálcio para todos os pacientes, principalmente em mulheres que já estão acima da quarta década de vida e próximas do período de menopausa ou já no climatério.

Como o médico controla a medicação?

A dosagem de L-tiroxina é determinada pela resposta clínica ao medicamento e pela realização periódica de exames laboratoriais. Muitas vezes o médico se baseia somente nos testes, esquecendo-se de que cada paciente tem "sua" dose individual de hormônio da tireóide com a qual se sente bem, com muita energia, com ampla vitalidade e bom metabolismo.
Pode-se dosar o nível de T4 no sangue (L-Tiroxina livre) e também verificar se o hormônio da hipófise que estimula a tireóide (TSH) está em nível adequado.
O tratamento com L-Tiroxina deve ser cuidadoso para evitar-se excesso deste hormônio na circulação, que poderá levar a excesso de batimentos cardíacos (taquicardia) e mesmo arritmias cardíacas.
Por outro lado, o hormônio da tireóide pode induzir saída do cálcio dos ossos se a dose for excessiva, o que poderá levar a futura osteoporose e possibilidade de fraturas (cabeça do fêmur).
Tomando alguns cuidados, viver sem tireóide poderá ser seguro, tranqüilo e com mínimas alterações na qualidade de vida da pessoa.

Fonte: VEJA ONLINE - nov 2007

Bócio: tireóide aumentada de tamanho

A tireóide, glândula situada na região cervical anterior, foi descrita pela primeira vez com detalhes anatômicos pelo genial artista, pensador, inventor e filosofo Leonardo da Vinci.
O desenho de Leonardo mostra a glândula tireóide em forma de "borboleta", situada entre as duas artérias que levam o sangue para o cérebro (carótidas). Naquela ocasião, século XVII, pouco (ou nada) se sabia das funções desta importante glândula.
Mas o conhecimento de que a tireóide podia mostrar-se aumentada, volumosa, fazendo-se saliente no pescoço é muito antigo. Os chineses já sabiam que em regiões montanhosas do país muitas pessoas tinham o "pescoço grosso, entumescido".
A medicina chinesa tratava estes pacientes com "esponja do mar", que hoje sabemos conter iodo.
Um historiador romano, Juvenal, ao acompanhar as tropas do exército romano que partiam para consolidar a conquista de Gália, observou que os habitantes dos Alpes apresentavam grande volume no pescoço -- chamado "Guttur", vocábulo em latim que deu origem ao termo "goiter, goitre".
Em português chama-se bócio ou papo. Somente no século XIX, após descoberta do iodo (1805), é que se aventou a hipótese de que regiões montanhosas, longe do mar, poderiam ter falta de iodo, o que levaria a glândula tireóide a crescer.

A descoberta do iodo e sua deficiência

A capacidade de observação de Napoleão Bonaparte estabeleceu um vínculo inicial entre a presença de bócio nos Alpes e a ausência dele em regiões junto ao mar. Napoleão indagou ao seu médico particular, Corvisart, por que nas regiões alpinas tantos rapazes sadios e fortes eram recusados para servir o exército francês por causa de "tumor" no pescoço. Ao mesmo tempo, mencionou que os habitantes de sua Córsega natal, em Marselha e áreas junto ao mar, este tipo de "anomalia" não existia.
Claro que Corvisart nada sabia do iodo ou da deficiência de iodo nas montanhas. Mas decorridos alguns anos, a descoberta do iodo e sua conexão com a tireóide passou a ser mais clara. A Suíça, país rodeado de montanhas, apresentava enorme prevalência de bócio em seus habitantes. Pequenas comunidades encravadas nos Alpes tinham mais de 80% dos seus habitantes com bócio.
Em Genebra, um médico local teve a idéia de dar gotas de solução de iodo às pessoas que sofriam com esse problema. Notou logo uma apreciável redução do bócio. Em 1830, já se sabia que a deficiência de iodo era a grande causa do aparecimento de bócio em populações alpinas.
A falta de iodo torna impraticável para a tireóide produzir os seus hormônios, T3 e T4. Isto porque esses dois hormônios possuem, respectivamente, três moléculas e quatro moléculas de iodo em sua estrutura química.
Com a falta de iodo e, conseqüentemente, menor produção de T3 e T4, a glândula hipófise produz um hormônio chamado de estimulante da tireóide (TSH) em enormes quantidades na tentativa de induzir a tireóide superestimulada a fazer mais T3 e T4.Com tanta estimulação por TSH, a glândula tireóide cresce continuadamente. No começo é um crescimento ordenado, com amplo aumento das unidades funcionais da tireóide (os folículos).
Depois, a contínua carência de iodo leva ao crescimento desordenado, que propicia a formação de nódulos e após várias décadas de falta de iodo temos o bócio com muitos nódulos (Bócio Multinodular).

O Bócio Multinodular deve ser tratado

O tratamento com iodo, que data desde o início do século XIX, tem os seus riscos. Acontece que o grande volume do bócio pode dar origem a um excesso de formação e liberação de hormônios tireóideos (T3 e T4) com o surgimento de hipertireoidismo por iodo. Tal fato pode levar a taquicardia, arritmias cardíacas, perda de massa muscular e outros sintomas Outra forma de tratar o bócio é tentar "segurar" a hipófise que secreta o TSH, hormônio estimulante da tireóide.
O raciocínio é simples: podemos administrar L-Tiroxina (T4), pela manhã, em jejum, e este hormônio da tireóide irá bloquear o TSH. Sem estímulo de TSH, o bócio tende a regredir, mas de forma lenta. Assim, seriam necessários anos de terapêutica para obter resultados animadores. Mais recentemente passou-se a usar o iodo radioativo.
Como o próprio nome indica, esta substância, produzida em reatores nucleares, é absorvida pela tireóide e uma vez incorporado à glândula emite radiações que destróem as unidades funcionais da tireóide (folículos), reduzindo, rápida e drasticamente, o volume do bócio.
Em um a dois anos após administração de iodo radioativo, o bócio decresce mais de 50% do volume inicial. Todavia, um terço dos pacientes passa a ter hipotireoidismo, isto é, falta da função da tireóide, como conseqüência da terapêutica radioativa.

E a cirurgia do bócio?

A cirurgia do bócio iniciou-se no século XIX e se tornou uma das cirurgias mais executadas tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Hoje, com os cuidados anestésicos, a perícia de cirurgiões especializados e preparo adequado do paciente, a remoção do Bócio Multinodular é exeqüível, com ótimos resultados e raras complicações.
A cirurgia permite rápida correção do Bócio Multinodular, mas alguns pacientes idosos já com doença cardíaca e arritmias podem ter a opção de ser tratados com iodo radioativo, que não tem riscos cirúrgicos e anestésicos e é simples de ser executado.

Fonte: Prof. Dr. Geraldo Medeiros Neto - nov 2007

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