Quando um médico se depara com um paciente agitado, com batimentos cardíacos em ritmo elevado (e, às vezes, arrítmicos), sensação de muito calor, sudorese "quente" e profusa, perda de peso apesar de comer bem, várias evacuações diárias, nervosismo e insônia, logo pensa que a tireóide pode estar trabalhando demais.
A glândula pode estar lançando enormes quantidades dos hormônios que habitualmente produz a L-Tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3).
Nesses casos, a primeira providência é investigar os níveis de hormônio estimulador da tireóide (chamado de TSH) produzido pela hipófise. Com valores muito altos de T3 e T4 circulante ocorre o bloqueio de secreção do TSH hipofisário e os valores deste hormônio ficam abaixo do limite habitual (menos do que 0,4mU/L). Um endocrinologista experiente checa também se o paciente não toma "remédio" para a tireóide, com a intenção de emagrecer.
Muitas pessoas, erroneamente, julgam que tomar L-Tiroxina pode levar à perda de peso. O abuso deste tipo de automedicação tem conseqüências sérias como as arritmias cardíacas, atrofia muscular, perda de cálcio nos ossos, entre outras anormalidades. Outro fato que deve ser citado é a abusiva, ilegal e revoltante prescrição de fórmulas para emagrecer contendo TRIAC (espécie de derivado de L-T4) ou L-Tiroxina, ou T3 (ou todas combinadas). Essas fórmulas são verdadeiras "dinamites", bombas de efeito retardado que levam a hipertireoidismo com todas suas conseqüências danosas à saúde.
As modalidades clínicas de excesso de tireóide
Em termos de hipertireoidismo causado por moléstias temos o bócio difuso tóxico (também conhecido como doença de Graves-Basedow), o nódulo tireóideo hiperfuncionante (doença de Plummer) e o bócio multinodular tóxico.
Nessas três situações, o mecanismo da doença resulta em excessiva produção diária de ambos os hormônios (T3, T4) que levam a sintomas cardíacos, emocionais, perda de peso e tremor de mãos, acrescidos do aparecimento de volume aumentado da tireóide (chamado de bócio, com ou sem nódulos).
Nas três modalidades de alteração (excesso) de T3 e T4 o médico terá de optar por uma das opções de controle da tireóide.- Usar medicamentos que bloqueiam a tireóide - Optar por dar dose terapêutica de iodo radioativo - Indicar cirurgia do bócio
Medicamentos que bloqueiam a função da tireóide
O médico tem duas opções: o metimazol (Tapazol®) e o propil-tiuracil (PTU). Ambos inibem a síntese de T3 e T4. O metimazol é absorvido em uma hora, mas permanece em nível elevado na circulação até 13 horas. Biologicamente, contudo, o metimazol permanece na tireóide de 24 a 40 horas.
Vantagem: pode ser administrado em dose única diária. O PTU também é absorvido em uma a duas horas e administrado três vezes ao dia pelo fato de que sua permanência na circulação é relativamente baixa (entre seis e oito horas). Ambos possuem alguns efeitos colaterais.
Alergia cutânea do tipo urticária é o efeito mais comum. Em vários países da Europa, no Japão e mesmo no Brasil usa-se mais o metimazol por ser menos tóxico e ter menos reações colaterais.
O problema de uso de bloqueadores de função de tireóide é que devem ser usados por períodos longos (de 12 a 24 meses) com "cura" de apenas 50% dos pacientes. É importante saber que os especialistas, antes de iniciar o tratamento, sabem avaliar, com algum grau de confiança, quais os pacientes que têm maior e melhor chance de "cura". São os que possuem menor volume de glândula tireóide, níveis pouco elevados de T3 e T4, menores valores de anticorpos antitireóide entre outros achados. De qualquer forma o hipertireoidismo deve ser controlado inicialmente com estes remédios e depois pode-se pensar em outra modalidade de tratamento.
Tratamento com iodo radioativo
A introdução do iodo radioativo ao redor de 1948-1950 revolucionou o diagnóstico e o tratamento de doenças da tireóide.
O iodo radioativo, subproduto dos reatores nucleares, é chamado de isótopo porque exibe a estrutura química do iodo normal, mas possui a propriedade de emitir radiações (gama e beta), que a cada oito dias perde metade de sua capacidade inicial.
O tratamento com iodo radioativo é rápido, totalmente indolor e sem efeitos colaterais.
O paciente recebe a dose calculada de acordo com: o tamanho de sua glândula tireóide, a capacidade da glândula de absorver iodo, sua idade, intensidade do hipertireoidismo e aspecto ultra-sonográfico da tireóide.
Após ingerir o iodo radioativo o paciente pode voltar para a casa, pois a radiação de que é portador é bastante pequena e sem risco para os familiares.
A tireóide irá absorver o iodo radioativo, e este isótopo liberando a radiação Beta irá destruir as células tireóideas diminuindo, em poucas semanas, o excesso de produção de hormônios tireóideos.
Com este tratamento o paciente obtém cura do hipertireoidismo, com melhora dos sintomas, diminuição do volume da tireóide (bócio) e ganho de peso. No caso de haver um único nódulo "super" funcionando a dose de radioiodo irá totalmente para o nódulo com excelente resultado, tanto na remissão dos sintomas como na diminuição do volume do nódulo.
A cirurgia para tratamento de hipertireoidismo é menos indicada, dado o excelente resultado do radioiodo. No entanto, a cirurgia é excelente método para "cura" do hipertireoidismo desde que o paciente seja preparado de forma adequada.
Fonte: VEJA ONLINE - dez 2007
Tratamento do excesso de função da tireóide
Por Roberta Mendes às 00:00:00
Marcadores: Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH), L-tiroxina, t3, t4
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