Selênio pode reduzir doenças da tireóide após a gravidez.

O uso regular de selênio, um mineral que atua no sistema imunológico e na destruição dos radicais livres, pode reduzir em até três vezes as chances de as mulheres desenvolverem doenças da tireóide após a gravidez, segundo um estudo italiano recém-divulgado em congresso internacional de endocrinologia, nos EUA.

As mulheres com propensão genética a desenvolver doenças da tireóide têm mais chances de ter problemas após a gestação. O sistema imunológico passa a fabricar anticorpos que combatem a tireóide, como se fosse um órgão estranho.

A glândula se inflama e há uma queda na produção de hormônios. Em mais da metade dos casos, a tireoidite do pós-parto pode levar ao hipotireoidismo ou à tireoidite de Hashimoto, uma doença auto-imune.

No estudo do endocrinologista italiano Roberto Negro, os pesquisadores avaliaram 2.143 grávidas. Dessas, 169 manifestaram sinais (tinham anticorpos antitireoidianos) de que o organismo já tinha começado a fabricar anticorpos contra a tireóide. Metade desse grupo recebeu 200 microgramas de selênio por 12 meses (durante a gestação e no pós-parto) e a outra metade não.

Negro afirma que as mulheres que tomaram o selênio tiveram três vezes menos chances de desenvolver tireoidite após o parto. Mas ele é cauteloso quanto à indicação em larga escala do mineral. “Embora os resultados desse estudo sejam promissores, ainda não há justificativa para generalizar o uso do selênio nas mulheres grávidas”, afirma ele.

O mesmo cuidado tem o endocrinologista Mario Vaisman, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “O uso do selênio pode vir a ser uma indicação futura para aquelas grávidas que já têm sinais da tireoidite. Mas ainda precisamos de mais estudos”, afirmou o médico.

A endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Maria Fernanda Barca, se diz muito entusiasmada com o estudo italiano e já avalia a indicação para suas pacientes grávidas que apresentam sinais de tireoidite.

Um estudo desenvolvido pela endocrinologista no HC constatou que 13% das gestantes tinham doenças da tireóide.

“Há mais de dez anos não havia avanços nessa área, especialmente no que diz respeito à profilaxia. O uso do selênio poderá não só prevenir, mas também melhorar a evolução da doença”, acredita a médica. Segundo ela, o uso de selênio não traz riscos à gravidez.

Ela explica que, durante a gestação, as células imunológicas costumam ficar bloqueadas para que o organismo não rejeite o bebê. “Depois da gravidez, há um rebote da imunidade e, conseqüentemente, maior agressão à tireóide”.

Tanto Vaisman quanto Barca defendem que todas as grávidas façam exame para dosar os hormônios da tireóide durante a gestação. Hoje, o exame não faz parte do rastreamento de rotina das grávidas. No Japão, os médicos já dosam os hormônios durante a gravidez e no pós-parto.

“Às vezes, um estado nervoso depressivo passa por depressão pós-parto e, na verdade, a mulher está com uma disfunção tireoidiana”, explica Vaisman.

A dona-de- casa Daniela Muniz dos Santos, 32, descobriu a tireoidite quando estava no sexto mês de gestação do primeiro filho. “Eu engordei muito, sentia apatia, desânimo e o volume da tireóide estava visivelmente aumentado”, conta.

Com o diagnóstico de hipotireoidismo, ela passou a tomar hormônios para manter a função da tireóide, mas, na segunda gravidez, a glândula voltou a apresentar disfunção, mesmo com o medicamento.

A incidência das tireoidites é maior entre as mulheres e aumenta com a idade, sendo mais freqüente após a menopausa. Acima dos 35 anos, a proporção é de cinco a sete mulheres para cada homem com problemas.

Um estudo populacional das universidades estadual e federal do Rio de Janeiro, com 1.299 mulheres, revelou que 12,3% das que tinham mais de 35 anos sofriam de alguma forma de hipotireoidismo e 85% delas nem suspeitavam do problema.

O trabalho, coordenado pelo endocrinologista Mario Vaisman, revelou um dado preocupante: 34% das pesquisadas já tinham usado fórmulas emagrecedoras, que, entre outras substâncias perigosas, traziam hormônios tireoidianos. Todas essas mulheres já apresentavam supressão de hormônio TSH (que controla o funcionamento da tireóide).

Uma outra questão que divide a opinião dos médicos brasileiros é se o país enfrenta ou não um aumento das doenças da tireóide. Em São Paulo, desde março, uma comissão formada pelo Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado, empresas e universidades checam o aumento de casos de tireoidite entre os moradores do pólo petroquímico do ABC paulista.

O alerta foi dado por uma médica da região e confirmado por análises do Instituto Adolfo Lutz. Os testes feitos pelo laboratório público indicaram 78% mais casos no pólo do que em Diadema, uma cidade com características industriais idênticas, mas sem a presença de petroquímicas. Ainda não há dados conclusivos.

Já o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto, professor da Faculdade de Medicina da USP, refuta a tese ambiental e defende que o aumento dos casos de tireoidite se devem ao fato de que, durante cinco anos (de 1998 a 2003), a quantidade de iodo adicionado ao sal foi excessiva (40 a 100 miligramas de iodo por quilo de sal).

Segundo ele, a ingestão exagerada de iodo desperta no organismo uma reação chamada de auto-imunidade: o sistema imunológico (que produz anticorpos) volta-se contra a tireóide, resultando em doença chamada de tireoidite crônica ou tireoidite de Hashimoto.

Outros médicos avaliam que o aumento se deve unicamente ao fato de que hoje há mais investigação dos casos de tireoidite e, por isso, mais casos são diagnosticados.





Fonte: jornalpequeno.com.br

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