A inflamação dolorosa da tireóide é freqüente

Desde o século XIX os médicos europeus já notavam que, no início da primavera, com dias ensolarados, mas noites ainda muito frias, a tireóide poderia apresentar-se aumentada e muito dolorida - principalmente em mulheres jovens. O primeiro clínico a descrever este tipo de inflamação da glândula foi o médico suíço, Fritz De Quervain. Em sua homenagem este tipo de tireoidite recebeu o seu nome (Tireoidite de De Quervain).
Tanto no hemisfério norte como ao sul do Equador, a primavera é a estação do ano em que a natureza acorda do período invernal. Flores para todo o lado, abelhas trabalhadoras fazendo mel, os animais se preparando para a época da reprodução, enfim, tudo numa intensa atividade biológica. Mas nesta época do ano os agentes patogênicos para o homem, como bactérias e vírus também se tornam mais ativos, e aptos a invadir nosso organismo, causando sintomas e doenças. Acredita-se que a tireoidite aguda seja uma doença viral, isto é, o agente que causa a inflamação é um dos vírus comuns que nos trazem o resfriado, a gripe (influenza), a caxumba, a rubéola, o sarampo.

Quadro clínico da tireoidite aguda

Em quase 100% dos casos existe um período inicial em que a mulher (a doença é rara em homens) tem uma fase chamada de "gripal". Coriza com secreção clara e abundante, dor no corpo, uma fadiga imensa, pouca vontade se sair da cama, febre de baixa intensidade. Após alguns dias desta "gripe", a paciente nota um dor na região anterior do pescoço, logo abaixo da cartilagem chamada "pomo de Adão". É a tireóide que se inflama e aumenta de volume. Quase sempre toda a tireóide é atingida pelo processo viral, a dor passa a ser intensa e se irradia para a mastóide, osso do crânio logo atrás da orelha. A febre pode aumentar, mas o quadro mais típico é de uma fadiga intensa, dores corporais mal definidas, disfagia - dor à deglutição. Raramente surgem sinais de excesso de hormônios da tireóide na circulação causando o hipertireoidismo. Quando isto ocorre, a paciente tem taquicardia, perde peso, tem tremor de dedos, sente nervosismo, insônia e agitação.
A tireodite aguda, sem tratamento pode durar 2 a 4 meses, sempre com aumento da tireóide e dor na região do pescoço. Mais recentemente descreveu-se que o vírus HIV também pode atacar a tireóide produzindo uma tireoidite com características semelhantes.

Diagnóstico da tireoidite aguda

O diagnóstico é bastante fácil para o endocrinologista experiente. Primeiro porque a tireoidite aguda surge muito freqüentemente na primavera e começo do verão, atingindo praticamente somente mulheres. Exames podem confirmar que a tireóide está sendo atacada por vírus. É possível tentar saber quais são este vírus através de exames chamados "tipagem sorológica". Mas não irão adiantar nada no curso da doença e também não nos irão dar auxílio no tratamento. A tireóide "doente" não consegue captar o iodo (teste de iodo radioativo indica total ausência deste composto na glândula). A ultra-sonografia mostra uma tireóide "escura", inflamada, com grande quantidade de células "brancas" do sangue (linfócitos), tentando defender a glândula do ataque viral. O exame clássico é um exame de sangue chamado "hemossedimentação".

Tratamento da Tireoidite aguda

A primeira opção do médico é remover a dor e o inchaço da tireóide. Desde há muitos anos se usava doses elevadas de aspirina (salicilatos), que diminui a dor, atenua a inflamação e faz cessar as dores corporais e a fadiga (moleza). Alguns médicos preferem logo entrar com comprimidos de antiinflamatórios mais potentes tanto os chamados não-esteroides (diclofenaco, Tylenol) como a própria cortisona e seus derivados sintéticos como a prednisona. Os efeitos destes medicamentos são imediatos, levando a glândula tireóide a voltar ao tamanho normal em 2-3 semanas. A dor desaparece e a função da tireóide se restabelece.
As doses de remédio devem ser, progressivamente reduzidas com o passar das semanas até cessar a terapêutica. Todavia, em muitas mulheres, a retirada total de antiinflamatórios faz voltar a dor na tireóide, e o médico, volta a prescrever o medicamento. É possível que esta dependência do corticóide seja apenas uma reação psicossomática, mas o fato é que pequena minoria de mulheres tem que permanecer sob medicação por um ano ou mais desde a eclosão da moléstia.
É muito raro que a Tireoidite Aguda Viral se torne uma doença crônica ou que desperte a agressividade de nosso Sistema Imunitário, produzindo uma doença auto-imune. Em todo o caso se existe doença de tireóide familiar na paciente este aspecto deve ser cogitado. Deve-se também realizar exames periódicos da tireóide.

revista Veja

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